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Silencia-se Edith Piaf

Posted in Cinema, História with tags , , , , on 11/10/2011 by Ilhota Rock Festival

A morte de Edith Piaf.

Quero continuar cantando…

Edith Piaf

Dona de uma saúde fragilizada, Edith Giovanna Gassion, 47 anos, que tantas vezes lutou contra a morte e a venceu, desta vez saiu vencida. Com uma história de vida cheia de contradições e dúvidas, o ato final de Piaf não poderia ser diferente…

Segundo nota divulgada pela AFP, baseada em informações do seu atestado de óbito, Piaf faleceu na manhã de uma sexta-feira, 11 de outubro em sua residência, logo após chegar emParis para submeter-se a um novo tratamento de saúde.

O marido Théo Sarapo, com a conivência de outros entes mais íntimos, deu nova versão ao fato, afirmando ter a morte acontecido um dia antes, numa casa de campo em Plascassier, onde Piaf viveu seus últimos dias. O atraso do comunicado público foi intencional, a fim de garantir as devidas providências para realizar um último desejo de Piaf. A cantora queria ser enterrada no cemitério Père-Lachaise, junto à sua filha e ao seu pai, o que poderia ser impedido diante do impacto da repercussão de sua morte.

Controvérsias à parte, a morte de Piaf causou uma comoção nacional. Além da presença dos mais próximos e de personalidades públicas, uma multidão foi prestar-lhe uma última homenagem. E mesmo não havendo um decreto de luto oficial, ele foi calorosamente popular.

Edith Piaf foi sepultada em 14 de outubro de 1963 no cemitério Père-Lachaise, conforme sua vontade.

La Môme Piaf

A grande senhora da música francesa de todos os tempos era uma mulher de corpo franzino, voz marcante e semblante triste. Foi lançada à sorte na vida artística noturna de uma Paris marginal do começo dos anos 30. Trouxe resquícios da infância miserável à margem de uma família desestruturada, agruras que procurou compensar na incansável procura do amor, um amor autêntico e único. Em todas as canções refletiu essa sua necessidade de amar e ser amada, como auto-retratos. Fez de sua arte o veículo de emoções comuns e de seus dramas particulares dramas de todo mundo: amor, solidão, pobreza, ciúme, medo.

Piaf nos deixou. E a música popular francesa perdeu não apenas a voz de uma grande intérprete, mas também sua maior legenda.

Em 1989 morre Bette Davis

Posted in Cinema, História with tags , , , , , on 06/10/2011 by Ilhota Rock Festival

Sabe o que vão escrever em meu túmulo?

Ela escolheu o caminho difícil

Bette Davis

A morte de Bette Davis. Reprodução

Tenho uma idade em que inveja e ciúme já não fazem mais parte do meu repertório. Há muito me conformei com a minha feiúra. Assim como me conformei com a beleza dos outros. Todos nós somos famintos de elogios

Bette Davis

Foi numa sexta-feira à noite em Paris que o mundo se despediu da “Malvada” diva de Hollywood. Aos 81 anos, Bette Davis morreu de câncer num hospital na França, três dias após conquistar o prêmio Donostiadurante o festival cinematográfico espanhol de San Sebastián.

A carreira artística de Ruth Elizabeth Davis seguiu suas características pessoais. Na década de 30, quando a mulher ideal era subliminar, retratando beleza exuberante e ingenuidade, ela desbravou uma nova trajetória naquele universo de onipotência masculina. Dona de expressivos olhos azuis e exímia capacidade de interpretação, construiu papéis intensos, marcados por personagens imponentes, emancipadas, autoritárias, colocando em evidência um comportamento feminino nada convencional para a época. Amarga e malvada, dramática e heroína, colecionou uma reputação notável protagonizando mais de 80 filmes. Foi garçonete calculista, aristocrata egocêntrica, cega, louca, mãe-solteira, amante, traidora, decadente.

Mas a revolução que promoveu não se restringiu às telas. Fora delas, Bette Davis também foi incansável. Na luta por melhores condições de trabalho para o meio artístico, enfrentou a imposição selvagem dos grandes estúdios cinematográficos, reivindicando melhores salários, contratos mais íntegros e roteiros inteligentes. Durante a guerra, participou do clube Hollywood Canteen, que oferecia assistência alimentar e entretenimento aos soldados americanos nos campos de batalha. E por seu profissionalismo, foi escolhida a primeira mulher presidente da Academy of Motion Picture Arts and Sciences.

Reconhecida pelo público, talvez não tanto pela crítica, como por vezes se queixou publicamente, conquistou o Oscar de Melhor Atriz em 1935, porDangerous, e três anos mais tarde por Jezebel. Recebeu o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes, por All about Eve em 1950.

Em sua memória foi criada em Boston, no ano de 1997 The Bette David Foundation que incentiva a descoberta de novos talentos no meio artístico.

Morre Mario Reis, o inventor do jeito brasileiro de cantar

Posted in História, Notícias with tags , , on 05/10/2011 by Ilhota Rock Festival
Musica perde Mario Reis

Fui louco

Resolvi tomar juízo

A idade vem chegando

e é preciso

Se eu choro

Meu sentimento é profundo

Ter perdido a mocidade na orgia

Maior desgosto do mundo!

 

Neste mundo ingrato e cruel, eu já desempenhei o meu papel

E da orgia então, consegui minha demissão…

Mário Reis

Mário Reis, 73 anos, morreu as 6h45 da manhã, na Clínica Bambina, Rio de Janeiro, de insuficiência renal aguda. O cantor estava internado desde o dia 9 de setembro, quando foi diagnosticado um aneurisma da aorta abdominal. Submetido a duas intervenções, não conseguiu reestabelecer-se. O corpo foi velado na capela 1 do Cemitério São João Batista na presença de poucos parentes e amigos mais próximos da família.

Ao se apresentar pela última vez em público – numa noite beneficente no Copacabana Palace, em 1973 – Mário Reis fez questão de dar a tudo um caráter de despedida. Cantou Fui Louco, acenou para o público com o lenço branco, tomou nas mãos uma das centenas de rosas que lhe atiravam numa emocionante homenagem e, em seguida, em silêncio, saiu de cena para sempre.

Depois dessa noite, quem quiser me ouvir cantando terá de tirar os velhos discos do baú

E assim foi. Nos últimos anos, recusando-se a aparecer em público, a gravar novos discos, a dar entrevistas e a ser fotografado, isolou-se de tudo. Quando muito podia ser visto no Country Club, ou contactado por telefone no apartamento anexo do Copacabana Palace, seu refúgio a partir de 1957. Extremamente vaidoso, Mário Reis, segundo os amigos mais chegados, parecia querer deixar gravada na memória das pessoas a figura jovem, sorridente, elegante, dos anos em que fora, como cantor, um personagem ímpar no cenário da música popular brasileira.

Uma lição que os candidatos a cantor, até então, inspirados no modelo de Vicente Celestino, começaram a aprender com Mário Reis: “Por que gritar, se falar é muito melhor?” Todo o segredo do estilo de Mário Reis está justamente nesta sua máxima de que o importante, na interpretação de um samba ou de uma marcha, estava no falar, na maneira de dizer, a voz saindo naturalmente, as notas breves emitidas no momento certo, ritmadas, entre pausas que seriam a sua marca e um divisor de águas.

Influência, inspiração ou coincidência, João Gilberto é um músico com uma atitude artística muito próxima da performance evolutiva de Mário.”Sentia que aquele prolongamento de som que os cantores davam prejudicava o balanço natural da música. Encurtando o som das frases, a letra cabia dentro dos compassos e ficava flutuando. Eu podia mexer com toda a estrutura da música sem precisar alterar nada… Acho que as palavras devem ser pronunciadas da forma mais natural possível, como se estivesse conversando. Qualquer mudança acaba alterando o que o letrista quis dizer com seu verso“. Essas básicas noções do canto joãogilbertiano poderiam ter sido assinadas por Mário Reis, embora este duvidasse ter influenciado o inventor da Bossa Nova.

Morre Janis Joplin, e o blues perde sua áspera voz branca

Posted in Artigos e opiniões, Notícias do mundo rock with tags , , , on 04/10/2011 by Ilhota Rock Festival
Janis Joplin. Reprodução

Não saberia fazer de outra forma. E isto é a pura verdade. A exaustão faz parte de mim, até mesmo nas viagens que realizo. As pessoas ficam espantadas porque, mesmo nos ensaios, eu canto desta forma. Mas é a única voz que possuo. E é como sei fazer

Janis Joplin

Apenas 16 dias depois do mundo da música ser abalado com a perda do cantor, guitarrista e compositor Jimi Hendrix, o Blues-rock perdia mais uma de suas estrelas: a cantora e compositora Janis Joplin era encontrada morta em seu quarto de hotel, em Los Angeles, vítima de uma overdose de heroína. Janis Joplin tinha apenas 27 anos e despontava como uma das artistas de blues mais promissoras da sua geração.

Janis Lynn Joplin nasceu em 19 de janeiro de 1943, na cidade de Port Arthur, Texas. Cresceu sob a influência de músicos de blues como Bessie Smith e Big Mama Thornton, o que a levou a tomar parte no coro local. Aos 16 anos, enquanto suas amigas de infância frequentavam o ginásio, Joplin se aventurava em viagens de carona pelos Estados Unidos aproximando-se cada vez mais da cultura negra do blues. Durante a década de 60 passou a fazer parte da Big Brother & The Holding Company, gravando o álbum homônimo em 1967. Em 1968, lançca Cheap Trills, tido como um dos melhores de sua carreira e responsável por tornar a cantora famosa. Janis Joplin ainda faria parte de mais duas bandas – a Kozmic Blues Band e a Full Tilt Boogie Band – e gravaria mais dois álbuns, sendo o último, Pearl, lançado um ano após sua morte.

Sua voz era áspera, como áspera era sua forma de vida.

O corpo de Joplin foi cremado no cemitério Parque Memorial de Westwood Village, naCalifórnia, e suas cinzas foram espalhadas no Oceano Pacífico.

Uma visita tumultuada

Janis Joplin esteve no Brasil no ano de sua morte. Sua visita foi tão tumultuada quanto sua personalidade: foi expulsa do Municipal, sofreu um acidente na Barra da Tijuca, não conseguiu realizar um show público na Praça General Osório e subiu à Rocinha para beber gim com alguns moradores do local. Sua relação com a imprensa do Brasil também não foi pacífica, tratando mal jornalistas e classificando algumas perguntas como “imbecis”. Apesar de tudo, declarou aoJornal do Brasil que gostou muito da Bahia e, apesar dos problemas em terras brasileiras, certamente sentiria falta de nosso país.

O cinema francês perde Simone Signoret

Posted in Artigos e opiniões, Cinema Internacional with tags , , , , , , on 30/09/2011 by Ilhota Rock Festival

Simone Signoret Reprodução

O segredo da felicidade no amor não é ser cego, mas saber fechar os olhos quando necessário

Simone Signoret

O cinema francês perdeu Simone Signoret, 64 anos, que viveu seus últimos dias com ar de leoa cansada, doente, até ser derrotada por um câncer contra o qual lutou até o fim. Em seu último trabalho para o cinema, L´Etoile du Nord, rodado em 1981, já tinha perdido 15 quilos, mas sua força e vitalidade continuavam intocadas.

Falar de Simone Signoret é falar de Yves Montand, com quem vivieu uma paixão de 36 anos. É falar de uma mulher que participou ativamente da vida política de seu país e do mundo. É falar de uma grande atriz que nunca quis ser estrela, mantendo ferozmente a individualidade, a vida à margem da ficção das telas. É, ainda, lembrar a escritora que, nascida tardia no livro de memórias La Nostalgie N´est Pas Ce Qu´elle Étail, terminaria por cristalizar-se em seu único romance: Adeus Volodia, escrito já no outono de uma vida bela e plena.

Nascida Simmone Henriette Charlotte Kaminker a 25 de março de 1921, em Wiesbaden, na Renânia alemã, então ocupada pelos franceses, era filha de um judeu que servia no Exército da ocupação. Ainda menina, já sonhava com o teatro e o cinema, mas tem os sonhos truncados pela guerra. Com a invasão alemã em 1940, perde a companhia do pai, que foge para Londres e, meio judia, passa a viver sozinha em Paris. Nessa época, ingressa na carreira artística e faz amizades com diversos intelectuais, entre eles, Jacques Prevet ePablo Picasso, tempos que chamaria mais tarde de anos de aprendizado.

Depois da guerra e de um breve casamento, vem o amor. Em 1949, encontra Yves Montand em Saint-Paul-de-Vence. A paixão é definitiva. Desde o começo, é uma relação única. Ela o acompanha em seu engajamento ideológico de esquerda e nas lutas pelos direitos do homem. Cada um faz sua carreira, Yves como cantor e ator de primeira grandeza e Simone como atriz completa, uma atriz que desabrocharia definitivamente bela – atrozmente bela – como uma mulher da Paris de 1900.

Seguem-se papéis memoráveis em Theresa Raquim, de Marcel Carne, As Diabólicas, de Clusot, As Feiticeiras de Salem, com a qual estréia no teatro ao lado de Montand. Depois de filmar Les Chemins de la Haute Ville, de Jack Clayton, na Inglaterra, ganha o prêmio de melhor atriz em Cannes em 59 e o Oscar de melhor interpretação feminina no ano seguinte em Almas em Leilão.

Mas, mesmo no auge da carreira, não perde a perspectiva política que deu à sua vida. Comunista militante, junto com Montand até 1956, quando os russos esmagam a insurreição húngara, visita o Kremlin e diz na cara de Krutchev o que pensa. Abandona o partido, mas não a causa política. Com mais 12 intelectuais assina um manifesto de apoio aos argelinos revoltados contra o domínio colonial francês. Direito à Insubmissão, intitula-se o panfleto, e por dois anos ela não volta a Paris. Com Sarte e Foucault, protesta contra a Guerra do Vietnam e depois em favor dos boat people refugiados daquele país. Denuncia as ditaduras e as torturas no Chile e na Argentina e apóia a Solidariedade na Polônia. Endossa o SOS Racismo, movimento para protestar contra o chauvinismo de alguns franceses de direita face a africanos e árabes que vivem na França.

Sua carreira abrange mais de 50 filmes, desde superproduções até filmes políticos. Os anos e a doença pesam., mas sua natureza radiante não faz disso uma tragédia: “A velhice é algo a que nos acostumamos. Quando fiz 40 anos, achei que estava doente. Depois, se há felicidade, leva-se na brincadeira“.

Corajosa, lúcida, foi grande até o final. Até as 7h30 da manhã do início de um outono francês, quando seus olhos se apagaram. Mas sua luz, a luz de alguém que olhou a vida corajosamente de frente em todos os momentos, a luz dessa mulher de todos os combates, que amou e foi amada por seu público, brilhará para sempre.

Morre Machado de Assis, o bruxo do Cosme Velho

Posted in História, Literatura with tags , , , , , , on 29/09/2011 by Ilhota Rock Festival
Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908)

Image via Wikipedia

O autor da obra mais consagrada da literatura brasileira, Machado de Assis, 69 anos, morreu em sua casa no bairro carioca do Cosme Velho. Chegava ao fim o sofrimento em que sobrevivia desde a perda da sua esposa, Carolina, três anos antes.

Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 21 de junho de 1839, no Morro do Livramento, nesta cidade. De origem humilde, neto de escravos alforriados, filho de um pintor de paredes e de uma lavadeira portuguesa, o escritor soube vencer dificuldades de toda ordem até tornar-se um dos mais respeitados nomes da nossa literatura. Autodidata por necessidade e aptidão, aos 16 anos publicou o seu primeiro trabalho literário, e conquistou o seu primeiro emprego como aprendiz de tipógrafo na Imprensa Nacional. No ano seguinte começou a escrever durante o tempo livre. Seu primeiro romance, Ressureição, foi lançado em 1872.

Machado de Assis foi um autor singular no panorama literário do seu tempo. Primou pelo uso essencial das palavras para exprimir seu pensamento. Usou intensamente recursos de metalinguagem e envolveu a participação do leitor em suas narrativas. Exercitou a ironia e o sarcasmo como ferramentas de crítica social.

O conjunto de sua obra retrata a coexistência do amor e do ciúme, da verdade e da mentira, do ser e do parecer. Chama a atenção para a ambiguidade e as sutilezas emocionais dos seus personagens, e para as mazelas da sociedade do seu tempo. A sua obra mantém-se tão atual e tão influente quanto há um século atrás. Desde sempre revisitado por gerações, os estudos de sua obra são incontáveis. Jornalista, contista, cronista, romancista, poeta e dramaturgo, foi fundador Academia Brasileira de Letras, instituição que presidiu de 28 de janeiro de 1879 até o fim da vida.

Quem respirava de perto

Jornal do Brasil: Edição especial 'Jornal do Século'O enterro do insigne homem de letras,Machado de Assis, foi velado por amigos do timbre deEuclides da CunhaMário de Alencar, José Veríssimo, Raimundo Correia e todos os colegas da ABL.

Rui Barbosa, com sentimento e eloqüência, fez o discurso de despedida:

Designou-me a Academia Brasileira de Letras para vir trazer no amigo que de nós aqui se despede.(…) Não é o clássico da língua; não é o mestre da frase; não é o árbitro das letras; não é o filósofo do romance; não é o mágico do conto; não é o joalheiro do verso, o exemplar sem rival entre os contemporâneos, da elegância e da graça, do aticismo e da singeleza no conceber e no dizer: é o que soube viver intensamente da arte, sem deixar de ser bom. (…)

Miles Davis, intenso até o fim

Posted in Música with tags , , , , on 28/09/2011 by Ilhota Rock Festival

Primeira página do Caderno B: Segunda-feira, 30 de setembro de 1991

Carros de luxo,
mulheres bonitas,
drogas e bebidas,
doenças e operações,
frases polêmicas
e dezenas de discos
de inovadora
e excelente música.
Esta pode ser
a síntese da vida
– repleta de excesso,
na trajetória pessoal
e no talento artístico
– de Miles Dewey Davis III,
o grande trompetista…

Jornal do Brasil

A música, o jazz em particular, perdeu um de seus mais consagrados expoentes. O artista americano Miles Davis, 65 anos, não resistiu às complicações decorrentes de apoplexia, pneumonia e insuficiência respiratória, e morreu em Santa Mônica, Califórnia. Ele foi enterrado no Bronx, Nova Iorque.

Sempre consciente de que não era como os outros, Miles nasceu diferente dos tantos outros que habitariam seu mesmo universo. Não teve a infância difícil, nem o início de carreira miserável, tal como outros gênios do trompete. Foi criado num seio familiar burguês, com o conforto de frequentar boas escolas e a oportunidade de aprimorar com estudos seu talento ao trompete. Esta base, que muito contribuiu com o seu ingresso na prestigiada e seleta Juilliard School of Music de Nova Iorque, também favoreceu ao seu estigma de rebelde. Se por um lado as portas se abriam por sua performance musical, por outro, as regalias a que se acostumou, possibilitaram um comportamento desregrado, que acabaria por levá-lo ao submundo. Essa complexidade se notabilizaria a partir do final dos anos 40, quando já consagrado como a grande revelação do jazz, sairia de cena pela primeira vez, por quatro anos, em função do consumo de drogas. Neste ritmo, desfilou toda sorte de suas experiências: os músicos geniais que conheceu, os sons que criou, as fusões musicais que promoveu, as mulheres que amou, as violências em que se envolveu, as perdas que sofreu. Uma vida frenética, até o fim.

Um artista atraído pelas experimentações

Indiossincrático. Miles Davis foi um furacão, de pensamento a mil, inquieto e alucinógeno, passional e contraditório, indecifrável. Um dos maiores trompetistas do século XX, redefiniu constantemente sua música. Inventivo, permanentemente atraído pelas experimentações, revolucionou o jazz, inserindo outros estilos ao gênero, como o rock, criando o que passou a ser convencionado como ‘fusion’. Criticado pelos jazzistas tradicionais, que condenavam seu poder inventivo, Miles manteve-se firme em suas convicções, para a sorte do grande público que sua produção musical arrebatou.