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Morre Janis Joplin, e o blues perde sua áspera voz branca

Posted in Artigos e opiniões, Notícias do mundo rock with tags , , , on 04/10/2011 by Ilhota Rock Festival
Janis Joplin. Reprodução

Não saberia fazer de outra forma. E isto é a pura verdade. A exaustão faz parte de mim, até mesmo nas viagens que realizo. As pessoas ficam espantadas porque, mesmo nos ensaios, eu canto desta forma. Mas é a única voz que possuo. E é como sei fazer

Janis Joplin

Apenas 16 dias depois do mundo da música ser abalado com a perda do cantor, guitarrista e compositor Jimi Hendrix, o Blues-rock perdia mais uma de suas estrelas: a cantora e compositora Janis Joplin era encontrada morta em seu quarto de hotel, em Los Angeles, vítima de uma overdose de heroína. Janis Joplin tinha apenas 27 anos e despontava como uma das artistas de blues mais promissoras da sua geração.

Janis Lynn Joplin nasceu em 19 de janeiro de 1943, na cidade de Port Arthur, Texas. Cresceu sob a influência de músicos de blues como Bessie Smith e Big Mama Thornton, o que a levou a tomar parte no coro local. Aos 16 anos, enquanto suas amigas de infância frequentavam o ginásio, Joplin se aventurava em viagens de carona pelos Estados Unidos aproximando-se cada vez mais da cultura negra do blues. Durante a década de 60 passou a fazer parte da Big Brother & The Holding Company, gravando o álbum homônimo em 1967. Em 1968, lançca Cheap Trills, tido como um dos melhores de sua carreira e responsável por tornar a cantora famosa. Janis Joplin ainda faria parte de mais duas bandas – a Kozmic Blues Band e a Full Tilt Boogie Band – e gravaria mais dois álbuns, sendo o último, Pearl, lançado um ano após sua morte.

Sua voz era áspera, como áspera era sua forma de vida.

O corpo de Joplin foi cremado no cemitério Parque Memorial de Westwood Village, naCalifórnia, e suas cinzas foram espalhadas no Oceano Pacífico.

Uma visita tumultuada

Janis Joplin esteve no Brasil no ano de sua morte. Sua visita foi tão tumultuada quanto sua personalidade: foi expulsa do Municipal, sofreu um acidente na Barra da Tijuca, não conseguiu realizar um show público na Praça General Osório e subiu à Rocinha para beber gim com alguns moradores do local. Sua relação com a imprensa do Brasil também não foi pacífica, tratando mal jornalistas e classificando algumas perguntas como “imbecis”. Apesar de tudo, declarou aoJornal do Brasil que gostou muito da Bahia e, apesar dos problemas em terras brasileiras, certamente sentiria falta de nosso país.

Vassoura Elétrica não é apenas blues

Posted in Bandas with tags , , , on 02/10/2010 by Ilhota Rock Festival

Foto divulgação Vassoura ElétricaVassoura Elétrica não é apenas uma banda de blues com um nome lúdico. Não se resume esse sonho que amadureceu em poucas palavras. Ter uma banda de blues é realidade para essa galera que trocou as vassouras (fingindo ser uma guitarra) e a cozinha da mãe há tantos anos, pelos estúdios e palcos da vida.

Da primeira formação em 1999 até hoje, muita água rolou. Pausas cruéis para um público ávido de boa música, tocada com alma e muita simplicidade. E certo dizer que a volta foi tão aguardada e reconhecidamente merecida. Transformações aconteceram na formação, assim como na vida de cada membro, novo ou veterano.

Logo Vassoura ElétricaA banda retorna em maio de 2010, trazendo na bagagem o peso da experiência e uma pegada mais forte. Depois de várias gravações de estúdio, percorrer as páginas dos principais jornais de Brasília, programas de rádio, TV e ocupar dos pequenos aos grandes palcos do Distrito Federal sempre com um público cativo, a Vassoura Elétrica quer ir mais além.

Hoje a banda tem plena consciência de que pode fazer, porque não perdeu o lúdico. São caras que têm o dom de manter vivo o sonho em conjunto. É Blues. É Rock ‘n’ Roll. É Vassoura Elétrica!

Fonte: Marcos Alexandre.

Só o blues salva

Posted in Música with tags , , , , , on 13/09/2010 by Ilhota Rock Festival

Só o Blues SalvaFoi na prisão que Luiz Mendes começou a ter prazer ouvindo música, e se virou fã de blues.

Durante muitos anos, décadas, sonhei, na minha solidão prisional, em ter casa, filmes, livros, computador, televisão, internet e música, muita música principalmente. Não seria só para mim, mas também pelo prazer de poder receber com elegância. Mas, ao sair da prisão, foi difícil até andar (tomei muita trombada até aprender), quanto mais ter isso tudo. Mas acreditei e empreendi nesse sentido.

BluesEstou conquistando. Não como queria (já, agora), mas aos poucos, como dá. Construí a casa no ano passado, após cinco anos de muito esforço, autocontrole e economia. Possuo atualmente cerca de 900 filmes, entre piratas e originais. Tenho aqui para ler, li ou tenho lido os livros que quis desesperadamente ler e dos quais fui privado por estar preso. Meu laptop é top de linha; a televisão é de plasma. Tenho TV a cabo e internet banda larga. Mas meu maior apreço é pelos meus CDs de música e DVDs de shows musicais.

Comecei a construir prazer musical na prisão. Até então não passava de um idiota estupidificado pela ignorância e pela dor. Levava meus sentimentos embaixo da sola do sapato. Pisava, esmagava para não doer mais ainda. Ainda bem que precisamos sempre de novos começos. Caso contrário, acho que acabaríamos antes dos 10 anos de idade. E eu comecei escutando Jô Soares Jam Session na rádio Eldorado todos os dias às 18 horas. Aos primeiros acordes de Buddy Guy, eu já identifiquei o blues como o lugar onde eu deveria estar com minha vida toda. A angústia, a ansiedade e as paixões imensas que se debatiam dentro de mim encontraram no blues sua expressão mais legítima. Dali para frente ficou mais fácil transformar tudo em música, poesia, e sobreviver.

BluesDe seis anos a esta parte, venho acumulando conhecimentos e materiais dessa cultura. Estudo em revistas especializadas, livros e filmes. Compro em sebos, piratas (crime maior é o original ser tão absurdamente caro), baixo na internet, como for e meu dinheiro der. Tenho já coleção considerável dos clássicos e até dos mais novos. A internet facilitou bastante.

Chorar de prazer

Gosto particularmente de Billie Holiday. Há três músicas dela – “Strange Fruit, “Lover Man” e “Summertime” – que não canso de escutar. A mulher interpreta com tamanha sensibilidade que faz doer na gente. Depois dela vem Buddy Guy. Tenho um show em que ele toca “Red House” e “Voodoo Child”, do Jimi Hendrix. Dá vontade de chorar de prazer. Ele esmerilha, acaba, parece incorporar o grande Hendrix.

BluesGosto muito de Muddy Waters e de John Lee Hooker. Ainda tem Clarence “Gatemouth” Brown e Dr. John, que tocam maravilhosamente. Tenho aqui em casa, graças à internet, dois CDs com 40 músicas de Robert Johnson, o mito do blues. Aos poucos vou me tornando um conhecedor de blues e gosto muito disso. Acho até que já faço uma leitura bastante satisfatória.

BluesClaro, gosto de outros estilos musicais: o rock progressivo do Pink Floyd e do Genesis (com Peter Gabriel nos vocais); o rock pesado do Deep Purple. Mas ainda prefiro os novos músicos de blues, como Robert Cray, Rory Gallagher e, principalmente, Stevie Ray Vaughan. Suas músicas são emocionantes e muito criativas.

Não sei, mas parece que a esperança de paz anda amortecida. Com o que já fui feliz, hoje sentiria dificuldades. Quase nada satisfaz de verdade. Tudo parece com data de validade vencida. O que há de melhor na vida é que tudo aquilo que pode ser refutado, evoluído ou superado acontecerá inevitavelmente. E isso nos conduzirá ao que virá, sem nos empacar por muito tempo. O blues provavelmente é um estágio, mas tomara eu consiga reter dele a possibilidade de rir, chorar e me sensibilizar, sem parecer bobo ou afrescalhado.

Escrito por Luiz Alberto Mendes, 56, é autor de Memórias de um sobrevivente, sobre os 31 anos e 10 meses que passou na prisão. Seu e-mail é lmendesjunior@gmail.com

Escrito por Ronaldo Lemos, para revista Trip.